23 abril 2004

A loucura nossa de cada dia: Messengers

Eu já tive ICQ no meu computador, antes disso eu até usei o chat da Mandic quando ainda ela BBS. Para quem é desse tempo pré-histórico, pré-java, sabe do que estou falando. Aquela telinha tosca em que você tinha que escrever os comandos e o download p2p já era famoso, só que nenhum arquivo levava menos de 20 minutos para baixar.
Então quando lançaram o ICQ achei o máximo, por 3 meses conversei com o mundo inteiro; ingleses, italianos, suecos, até Israel fez contato comigo, o mundo estava na minha tela, ao alcance do meu teclado.
Depois de um tempo percebi que com o danado on-line eu não conseguia fazer mais nada, era o tempo todo alguém te procurando com a mesma conversa de sempre, então fiz de tudo para voltar ao anonimato. Ah! O tão menosprezado anonimato...
Algum tempo depois percebi que meu ICQ andava as moscas, tinha me tornado tão anônima que ele só servia para fazer sentir solitária e abandonada, então cortei o mal pela raiz, tirei o maldito. Se o seu telefone nunca toca, cancele sua linha, assim você pensará que os outros só não te ligam porque você não tem telefone!
Ontem me convenceram a colocar o MSN, estava de pé atrás, mas os argumentos eram convincentes, fazer trabalhos on-line e tal. Descobri que metade dos meus amigos de ICQ já haviam migrado para o MSN, eu era uma das ultimas sobreviventes. Então, ontem, tive um encontro surreal com uma colega que está morando lá na outra metade do globo. A um oceano de distancia, através de nossas web câmeras fiz uma visita a seu apartamento, conheci seu colega de apartamento, fui até o banheiro, recebi gestos obscenos e tchaus. Me senti assistindo a um live show e o pior é que eu estava na telinha também. Lá no canto esquerdo do MSN estava meu cabeção reproduzindo cada gesto, cada boca aberta de sono, cada roída de unha, cada olhar indecifrável, detalhes que ninguém prestaria atenção numa conversa normal estavam lá, ampliados e em câmera lenta. Não consigo imaginar como alguém possa usar essas maquininhas do demônio para realizar alguma fantasia. Com todos aqueles detalhes e closes e iluminação e sombras... De qualquer modo não pude deixar de ficar maravilhada com as possibilidades de matar a saudades da cara de alguém que está longe. Agora só falta conseguir mandar aquele abraço anexado no e-mail.

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