31 março 2004



Tudo que você sempre quis saber sobre: Lou Andréas-Salomé

Escrever sobre Salomé é mais do que um simples exercício literário, é confessar a si mesmo fraquezas e anseios. E o que eu poderia falar de Salomé, logo eu, que pouco sei de sua vida, quando amigos e amantes ilustres fizeram dela musa e correspondente. Freud, Nietzsche, Wagner e Tolstoi, só para citar os mais pops, e em especial o jovem poeta austríaco Rainer Maria Rilke. Quinze anos mais novo que Salomé, Rilke dedicou a ela metade de suas obras, no livro "O diário de Florença" arte renascentista e declarações apaixonada se misturam. Ninguém melhor que Rilke para falar de amor, ninguém melhor que Salomé para saber de amor. Salomé foi musa porque foi apaixonada, mas não se prestava aos caprichos de ninguém, seu grande anseio estava em viver cada momento, honesta consigo mesmo: "só aquele que permanece inteiramente ele próprio pode, com o tempo, permanecer objeto do amor, porque só ele é capaz de simbolizar para o outro a vida, ser sentido como tal.". Com tal afirmação já dá para perceber que ninguém era capaz de prende-la por muito tempo, nem mesmo Rilke. Muito me espanta que Salomé tenha mantido uma amizade com Freud por quase 25 anos, devo lembrar aqui que esta exerceu a profissão de psicanalista e escritora, mesmo sendo confidente de Anna Freud e apoiando-a contra o pai, e ainda suspeito que tenha sido ela a mencionar Eros e Thanatos a Freud, pois Salomé acreditava que era preciso amar a vida em todas as suas fases e amar até mesmo a morte. Lembro-me da afirmação de um certo filósofo que disse que quem aprendeu a morrer aprendeu a ser livre.
Salomé nasceu em 1861, morreu em 1937, não foi uma mulher a frente de seu tempo, foi uma mulher de seu tempo, tomou-o nas rédeas, o tempo foi seu.
Para saber mais: Humana, demasiadamente Humana(pode me emprestar depois, o outro eu já li.)

15 março 2004



Toten: Orquídias

Ai está, ela não abana o rabo quando você chega em casa, nem chora quando está com fome, mas assim, deslocada de seu meio, ela precisa de você. Não é tão diferente de cuidar de uma pessoa, siga as mesmas regras básicas nada de excessos, atenção e respeito por sua natureza. O excesso de água impede a respiração das raízes e ela morre sufocada. Excesso de carinho pode matar a planta. Pouca água, luz indireta do sol, mas muita claridade, boa ventilação e boa umidade atmosférica. Além disso, dependendo de como rolar o relacionamento de vocês, uma adubação foliar a cada 15 dias vai bem.
A orquídea, por ter um metabolismo mais lento, como regra geral, pode dobrar e até triplicar a idade média de um ser humano, ou seja, até 150 anos. Caso uma relação de tamanha longividade lhe pareça um fardo demasiado pesado, basta deixar que a natureza tome seu próprio curso e logo ela não fará mais parte da sua vida.

ps: publicado em decorrência de um mês de muitos aniversariantes, presentes diversos e demostrações de ingenuidade.

07 março 2004



A loucura nossa de cada dia: La Bella Máfia

Ainda revirando lá no fundo do baú encontrei esta foto. Não, não é o elenco de mais uma saga global "Cosa nostra" ou coisa do gênero. É uma autentica foto da máfia italiana: a família. Mais precisamente a minha família, pouco antes da partida pra terra dos sonhos, acredite, o Brasil. O quinteto em destaque é meus avós, meus tios e minha mãe, mais a direita um casal de primo que acabou indo parar na Alemanha e ainda passa as férias na bella Itália, e os sorridentes noivos, são as únicas caras que reconheço. Todos estes casaram por amor, porque apesar de um bocado conservador, o povo italiano é ainda muito mais passional. Mas casaram e viveram sobre a benção de suas famílias, e não poderia ser diferente, percebi há alguns anos quando visitei minha família em Nápoles, que a verdadeira máfia é muito mais do que aquela dos filmes yankes, porque estamos ligados a verdadeira máfia por DNA e mamães italianas.
Meus parentes na Itália nunca fizeram questão de quebrar a tradição, alias se há algo em que os italianos são peritos é tradição, desde a famosa macarronada da mamma até o sustento dos filhos, nada varia muito. Minha tia, veja bem que estamos falando em parentes de segundo grau, lá é mais uma "herdeira" e seu marido um administrador de seus bens, a filha caçula mora em casa, trabalha meio período e espera pelo casamento, enquanto os outros dois rapazes vivem em novíssimos apartamentos em prédios pra lá de velhos livrando meu tio da ilegalidade de ser senhorio. Os dois rapazes, já casados, também não trabalham mais que algumas horas por semana, assim como boa parte do sul da Itália, geralmente hibernam durante o inverno e migram no verão, o que faz o italiano médio tenha uma certa aversão ao trabalho (o mais simpático italiano pode ser intolerável se abordado durante o expediente) e deixa o tempo livre para cuidar de perto das crias e dos criadores. Logo, se você é um ítalo-sulista típico, provavelmente carregará um divida imensa com seus pais, tios e avós, assim como estes carregaram com os que vieram antes, em troca eles lhe oferecem proteção, uma boa vida, receitas de família e um teto por cerca de 40, 50 anos, até que você esteja pronto para assumir o posto.
Felizmente estamos no Brasil, não? Reunir os parentes de segundo grau é um tanto mais complicado, mesmo morando no mesmo bairro, fica difícil fazer uma visita a pé bem no meio de uma quarta-feira só para checar como as coisas estão. Pensando bem, da terceira geração, só sobrei eu por aqui, a maioria, os de primeiro grau, já se mudaram; Pinheiros, São Bernardo, Curitiba, Inglaterra, aos poucos vamos ampliando as distancia, afinal aqui não existe essa tal máfia. Melhor guardar bem esta foto.