29 julho 2004

Tudo que você sempre quis saber sobre: Educação Poética
Eu queria ser poeta, mesmo nada entendo de poesia; simetria, metonímia, versos decassílabos. Longos e tediosos versos de melancolia, era assim que eu achava que se fazia poesia. Culpa da minha restrita alfabetização parnasiana, naturalista, limitada, de Camões a Castro Alves. Na escola aprendi que a poesia pertence aos profissionais das letras, mesmo não me encantando com a tal ladainha, não me rendia a simplicidade dos versinhos...
Versos? Quem nos ensinou que poesia se faz em verso? Se eu ensinasse poesia começava tudo diferente. Começava levando meus alunos para fora da sala de aula, lição numero um: observar. Uma pedra, um ovo, uma folha seca, qualquer coisa que pudesse ser olhada por tanto tempo até que sua forma original desintegrasse frente aos olhos para sedimentar-se em sensações. Antes de educar o homem, é preciso educar seus sentidos. Segunda aula, começava com Satie em suas notas perfeitas e acabava com Billie Holiday, quando meus alunos ouvissem a dor e a destruição no lugar das melodias, poderíamos passar para a lição três; a fagia, literalmente comer. É preciso saber degustar para saber apreciar a poesia, a gastronomia, com toda sua pompa e circunstância, é a poesia concreta, a própria experiência hermenêutica que não requer palavras. Compreendido os alcances da poesia, eu diria aos meus alunos "vão, façam poesia e, se der vontade, escrevam".