29 junho 2003

 Wil, como eu havia prometido, o mistério dos tigres.

Totem: Os Tigres

O poeta se encontra perdido nas dunas de areia, como Borges que agora anda a espreitar tigres. Das montanhas geladas da Sibéria as quentes Planícies Indianas, o Tigre caça solitário, caminha a passos leves, articulando pele e osso, força e flexibilidade. É impossível não sentir a presença do Tigre expandir-se até seus ombros. Não olhe para trás. Haverá alguma coisa ali? Talvez seja melhor não descobrir.
O Tigre segue, desprezando o que não for caça, os olhos sempre voltados para frente, o corpo curvado, o coração protegido no peito. Eis seu objetivo: sobreviver.
Ele desliza macio, inconsciente de ser um felino, alheio a sua própria sensualidade, preparado para fazer sangrar, para rasgar a carne com os dentes, para segurar a presa pela unha, o Tigre, sozinho, para se satisfazer.
Buscará o outro apenas para calar o instinto, tratará gentilmente os seus para que aprendam a fazer-se respeitar, cuidará enquanto não representarem perigo. Segue que a terra é sua, cada gota de sangue que verter sobre ela será sua recompensa, mas não atacará o corpo do poeta, este desejo não há de se realizar. Não com aquele que ama os tigres, já cumpre sua sentença de ter apenas a alma devorada.

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