24 junho 2003

Correspondência:

Estou emocionada, sempre fico emocionada nestas ocasiões, hoje recebi uma carta. E não era conta para pagar, não era propaganda de pizzaria, nem multa. Era um envelope branco endereçado a mim, com meu nome escrito a caneta, selo, estampa e tudo mais. Não precisei ler o remetente porque reconheci a letra e também provavelmente porque a Novs é a única pessoa que eu conheço que ainda escreve cartas. Entrei em casa com o papel estalando na mão, coloquei-a no escritório, tomei banho, preparei um lanche e só então sentei para ler, rasguei com cuidado o canto do envelope e desdobrei três folhas escritas a mão, li as novidades, não tão novas, satisfeita por segura-las em minhas mãos. Tive que seguir todo um ritual para fazer jus a carta. Não que não nos falemos por e-mail ou telefonemas esporádicos, mas uma carta é uma carta, um artesanato. A carta trás nas linhas o humor do autor, as condições no papel, percorre um longo caminho, pode ser lida, relida, queimada, amassada, guardada de baixo do travesseiro, ser, muitos anos depois, encontrada.
Em quartos escuros, iluminados apenas pela mingua luz de velas, olhos atentos as palavras, talvez letras desenhadas cuidadosamente a bico de pena... durante séculos cartas de negócios, de saudades, de amor, de mágoa, atravessavam o mundo para fazer história, mesmo numa época em que uma carta levaria seis meses para ir da Inglaterra a China, elas carregavam o coração dos homens, que aguardavam ansiosos a chegada a seus destinos e mais ansiosos ainda esperavam por respostas.
Ter amigos distantes não garante cartas. Não me faltam pessoas que amo mundo afora, seja Inglaterra ou Campinas, seja Missouri ou Tatuapé; numa era onde o mundo parece tão pequeno a tecnologia apenas ampliou o espaço entre nós.
Tenho uma dívida a pagar, e que pagarei com o maior prazer, se não pude ir até Concórdia é uma parte de mim que vai.

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