08 fevereiro 2004



Cinesofia: A festa de Babette

O filme é uma pequena pérola de 1987 onde a traumatizada Babette gasta toda sua pequena fortuna para preparar um banquete, pra lá de libertador, para suas patroas. A história é simples, mas para entender Babette é preciso ser um pouco mais do que ser um filósofo ou um cinéfilo; é preciso ser um gourmet . A cozinha de Babette é sua arte e os convidados não escapam a ela sem transformação alguma.
Na ultima semana dei minha festa de Babette, dois dias de muito trabalho para um menu um tanto quanto simples; arroz com passas, frango assado na cerveja, salada de berinjelas e purê de mandioquinha. Tudo aprovado por 4 exigentes degustadores. A boa cozinha artesanal já me rendeu mais que elogios, textos de hermenêutica e filosofia, mas é na sua apreciação que se encontra o grande prêmio do cozinheiro. Cozinhar não apenas para alimentar-se, mas para alimentar a alma, a comida traduz a personalidade do cozinheiro, a degustação o expõe, como um escritor que se esforça nas sensações, o cozinheiro esforça-se para cria-las e desapertá-las, é uma linguagem tácita.
Infelizmente ainda não aprendemos quando parar de nos "comunicar", muita comida depois e petit gâteau de nozes com sorvete de creme a vontade, o prazer da reunião à mesa deu lugar a um momento de monstruosa saciedade o qual a cozinha francesa aprendeu sabiamente a administrar, oferecendo pequenas e saborosas porções sem cansar o aparelho digestivo ou acostumar o paladar, deixa-se no degustador a perpétua sensação de "quero mais". A sedução é um dos elementos mais fortes na cozinha, talvez por isso poucas mulheres resistem a um homem de avental, aquele que cozinha sem obrigação suspeita-se um perito na função de dar prazer ao outro.

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